1928 - Ano do início da circulação pela direita em Portugal.

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Em Portugal e nas suas colónias, até 1928, a circulação automóvel era feita pela esquerda.
Em 1928, um ano após ter sido criada a Junta Autónoma de Estradas, foi legislado o primeiro código da estrada português e, pelo decreto n.º 18.406, de 31 de Maio de 1928, seria estabelecida a circulação pela direita nas estradas.
 1928 - Ano do início da circulação pela direita
Sinais colocados pelo Diário de Notícias e pela Vacuum Oil Company
 Acidente de automóvel no Largo do Chiado, Lisboa, em 1928. Estúdio Mário Novais
A partir das 5 horas da manhã de 01 de Junho de 1928 em Lisboa, e à meia noite no resto de Portugal continental, para os cerca de 31 mil condutores com carta de condução e cerca de 28.000 automóveis então existentes, passou a ser obrigatória a circulação rodoviária pelo lado direito das estradas. O mesmo aconteceu na Guiné, em Angola e Timor e, presume-se, na Fortaleza de São João Baptista de Ajudá. No entanto, em Macau, Goa e Moçambique, tendo em atenção as suas situações específicas, manteve-se a condução pelo lado esquerdo das estradas.
Em Timor, a condução passou a ser feita pela direita em Junho de 1928. Mais tarde, depois da Abrilada de 1974, mais exactamente em 1975, na sequência da anexação de Timor pela Indonésia, o sentido da condução foi novamente alterado para o lado esquerdo.

Fontes:
- Automóvel Clube de Portugal
- AHML 

Requiem pela casa com os n.º 53-55, na rua de São Sebastião. (Porto)

terça-feira, 19 de setembro de 2017

  
Aspecto geral da casa com os n.º 53-55 e do nicho, da rua de São Sebastião, junto à Sé do Porto. 
Uma sólida construção do século XVII, aqui visível em dois clichés obtidos por Teófilo Rego por volta de 1958.
Cliché de Teófilo Rego
Casa na rua de S. Sebastião. Cliché de Bomfim Barreiros
Costureirinha da Sé - 1959 - "Barbearia Bocage"
O edifício com o nicho. Um dos vários locais, que serviram de "palco" para a realização do filme português "A Costureirinha da Sé" em 1959. Fotogramas do filme citado.
As duas fotografias que se seguem, foram obtidas em Setembro de 2017. Do secular edifício, resta a fachada, suportada por vigas metálicas, já tão enferrujadas e deformadas, que a estrutura aparenta um eminente colapso. É mais que urgente uma intervenção!!! Se nada for feito, muito em breve, tudo se perderá.
 Cliché de Alexandre Silva
 No nicho (agora vazio) podemos ler uma data: 1699

Fonte Milenária de Águas Santas. (Maia)

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

 Fonte Milenária de Águas Santas
Não é (para já) exactamente uma "fonte desaparecida", mas está bem escondida, esquecida e é totalmente desconhecida por muitos dos moradores da própria Freguesia.
A história desta fonte, prende-se à lenda do próprio local e tem pelo menos duas versões, sendo uma delas sustentada por um insigne habitante de Águas Santas, o Dr. Joaquim Moutinho dos Santos, dirigida a António Arroio e que este transcreve no livro "Singularidades da Minha Terra".
Afirmou o Dr. Joaquim Moutinho dos Santos a António Arroio em 1897:

«(...) fonte de abobada oval em toda a sua amplitude, hermeticamente fechada, dando apenas entrada aos aljôfares de puríssima agua que borbulhava do fundo, a qual estava situada no sopé do Mosteiro e, poucos anos antes, havia» sido deslocada do seu leito e transformada em uma cisterna lodosa e despojada de suas aguas perennes, a ponto de seccar em tempos áridos, «destruição sacrilega esta que é o assassinato mais estúpido que encontramos na meditação da nossa historia e não podemos por elle deixar de responsabilisar a memoria do parocho que então presidiu a tal offensa ! »

E diz António Arroio:

E apesar desta outra arremetida, também quasi logo acompanhada dos mais altos elogios ao pároco que três anos depois destruia as arcarias da igreja, o nosso doutor continua :

«Esta fonte, bem como Jesus Christo e S. João, baptisou-se a si com o sangue martyr das filhas de Calcia, e baptisou a freguezia pelo martyrio dos primeiros christãos que ali soffreram. Ás filhas de Calcia e Catilla Severo, regulo bracharense e cônsul nas terras da Maia, datam da era christã 138. E crivei que ali tiveram os romanos o seu templo, e que a sua divindade fora Maia, filha de Fauno, como idolo mais próprio dos romanos, que adoravam como deusa silvan, em lugares menos cultos; confirma d’alguma forma esta idea a existência d’um castello da Maia, perto do templo, cujos vestígios ainda ha quem lembre. E por consequência d’esta divindade passou o nome ás terras e ás famílias, e algumas dignas de memoria, como o célebre lidador Gonçalo Mendes da Maia, do século 9.°. Assim como bem perto desse castello existe um lugar denominado Picoa, que alguma originalidade tem de Pico, pai de Fauno da familia endeusada Maia, que parece não se deixou confundir com Maia, mãi de Mercúrio.

«O nosso fim, que era saber o nome e baptismo da freguezia de Aguas Santas, é o que vai coroar a nossa obra e deixar-nos cônscios de sua realidade.

«Ao pé d’aquella decantada fonte, como a descrevemos, soffreram as três filhas de Calcia, Basilia, Germana e Victoria, o antecipado martyrio que as beatificou, com Wilge Forte, que as capitaneava e instruía na religião do Crucificado, e habitavam em Silva-Escura em um erimiterio, onde se escondiam á perseguição dos idolatras infiéis. Ali aprehendidas pelos idolatras romanos foram martyrisadas junto áquella fonte, soffrendo flagícios e torturas, com que pretendiam fazel-as renegar da sua fé; não lhe poupariam a sede mortificadôra ao pé d’aquella agua refrigerante, augmentada com as suas lagrimas, e de Wilge Forte, que jamais as desacoroçoou da firmesa da sua crença.

«Aquella fonte era como dissemos oval e fechada, só tinha a meia laranja o lugar por onde lançava a agua. Em algum tempo bem remoto a fonte foi arrombada pelo lado d’onde sahia a agua, e consta que dentro se achou a imagem da Santa Virgem, que as Santas lá poderam introduzir, para não ser queimada pelos infiéis. Não sabemos se antes do seu apparecimento ou depois, os povos deram ás aguas d’aquella fonte o nome de Santas, e pegaram a usar d’ella como virtuosa em certas enfermidades ophtalmicas e cutâneas; virtude que foi esquecendo com o tempo. O que é certo é que desde o principio do christianismo tem feito muitas almas christãs, e graças ao zelo do actual parocho da nossa freguezia, o Rev.do António de Ascenção e Oliveira, que assim como tem reedificado e melhorado as condicções do templo, não deixará de decorar o lugar da fonte, fazendo-lhe restituir as Santas lagrimas das virgens, que ali verteram pelos mysterios da sagrada religião do Crucificado.

«Contando já da nossa parte, como holocausto, com a lapide commemorativa ás martyres que ali soffreram, com a seguinte legenda:

As três filhas de Calcia, que Wilge Forte
Na fé christã creou robustecidas.
Aqui, ás mãos dos impios homicidas,
Soffreram pela cruz do martyrio a sorte.

É vão supplicio ao justo! É gloria á morte;
Seu sangue em puras lagrimas vertidas
Orvalhos são do céo, que convertidas
As almas dos pagãos lhe mandam acorte.

Triumpho foi de Wilge em vêr Germana,
Basilia resignada, assim Victoria,
C’roada a sã virtude á mão profana!

Dezoito séculos contam lá na gloria
Das virgens, d’esta fonte o pranto mana
Em Aguas Santas correm por memoria !»

Termina António Arroio:

O bom do dr. Moutinho não conseguiu ver satisfeito o seu poético desejo. Os padres não fizeram caso, nem da fonte, nem do seu clássico cantor. Desprezaram-n’os. Pois, a meu ver, não valiam mais do que ele. E por isso aqui os deixo aos três, reunidos em póstumo, saudoso e jovial convívio.
No site da Junta de Freguesia de Águas Santas, podemos ler uma segunda versão, talvez mais popular e menos exacta:
Conta a lenda que em tempos remotos, mais propriamente cerca do século II depois de Cristo, existiu um convento na freguesia de Silva Escura do concelho da Maia. Nesse convento era venerada a Virgem Santa Maria, cuja imagem encimava o altar principal da capela do convento.
Certo dia, soube-se no convento que os romanos estavam prestes a atingir o Rio Ave na sua missão de destruir tudo que se relacionasse com os prosseguidores de Cristo na terra.
A madre-superiora do convento, de nome “Sophia”, receando que os romanos maculassem a imagem da Virgem, foi, pela calada da noite, acompanhada pelas noviças, Krissana e Mafalda, esconder a imagem a alguns quilómetros do local.
Depositaram-na embrulhada nuns panos no meio dum silvado, junto a uma fonte.
Regressaram ao convento. Três dias depois, o convento era invadido pelos romanos que chacinaram todas as freiras.
Tempos depois, uma mulher que fora buscar água à citada fonte, reparou que no meio do silvado estava qualquer coisa estranha. Tomou o embrulho, retirou os panos e deparou com uma linda imagem de Nossa Senhora chorando.
Aquela mulher correu a dar a notícia. Uma multidão veio ver e logo apelidaram a fonte de “FONTE DAS ÁGUAS SANTAS”.
Mais tarde, foi construída naquele local uma igreja que se passou a chamar a Igreja das Águas Santas.

Bibliografia e fontes:
- C.M.M
- J.F.A.S.
- https://issuu.com/aderitogomes2/docs/singularidades_da_minha_terra_de_an

Imagens:
-Alexandre Silva

Confeitaria Oliveira. (Porto)

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Confeitaria Oliveira. Cliché: Phot.ª Guedes
Aspecto da antiga e já desaparecida «Confeitaria Oliveira» na Praça de Carlos Alberto. Vemos igualmente, a então também existente «Confeitaria Saldanha», assim como a «Hospedaria Antiga Casa Torrado» e o «Hotel da Boa Esperança». 
Imagens:
- Phot.ª Guedes in Arquivo Histórico Municipal do Porto

A "Passarola" de Bartolomeu de Gusmão.

quarta-feira, 12 de julho de 2017

Bartolomeu Lourenço de Gusmão, SJ (Santos, Dezembro de 1685 - Toledo, 18 de Novembro de 1724), cognominado o padre voador, foi um sacerdote secular, cientista e inventor luso-brasileiro nascido na capitania de São Vicente, em Santos, na colónia portuguesa do Brasil, famoso por ter inventado o primeiro aeróstato operacional, a que chamou de "passarola".
 Bartolomeu Lourenço de Gusmão, por Benedito Calixto, em quadro de 1902
Sem nos alongarmos no percurso de sua vida ao longo de anos, para não nos afastarmos do tópico desta publicação, podemos no entanto acrescentar que em 1708, já ordenado padre, Bartolomeu embarcou mais uma vez para Portugal. Logo após sua chegada, em 1º de Dezembro matriculou-se na Faculdade de Cânones da Universidade de Coimbra. Passados alguns meses, contudo, abandonou a faculdade para instalar-se em Lisboa, aonde foi recebido com sumo agrado pelo Rei Dom João V e pela Rainha Maria Ana de Áustria, apresentado que fora aos soberanos por um dos maiores fidalgos da Corte, D. Rodrigo Anes de Sá Almeida e Menezes. Esse homem era ninguém menos que o 3º Marquês de Fontes, o mesmo que o havia recolhido à sua casa aquando da sua primeira estada em Portugal.
Na capital portuguesa o padre Bartolomeu Lourenço pediu patente ou "petição de privilégio" para um “instrumento para se andar pelo ar” – que se revelaria ser, mais tarde, o que hoje se conhece por aeróstato ou balão –, a qual foi concedida no dia 19 de Abril de 1709. O facto causou celeuma na cidade e a notícia rapidamente se espalhou para alguns reinos europeus. O invento, divulgado por meia Europa em estampas fantasiosas que, em geral, o retratavam como uma barca com formato de pássaro, ficou conhecido como “Passarola”.
 Ilustração imaginária da Passarola, em 1709
As primeiras ilustrações da Passarola haviam sido na verdade elaboradas pelo filho primogénito do 3º Marquês de Fontes, D. Joaquim Francisco de Sá Almeida e Meneses, com a conivência de Bartolomeu. O 8º Conde de Penaguião e futuro 2º Marquês de Abrantes contava 14 anos em 1709 e era, então, aluno de matemática do padre, sendo a única pessoa à qual ele permitia livre acesso ao recinto em que o engenho voador era guardado. Como o rapaz vivesse assediado por curiosos, que constantemente lhe faziam indagações acerca da invenção, resolveu ele, para deixar de ser importunado, elaborar o exótico desenho da Passarola, em que tudo era propositadamente falseado. E para preservar o verdadeiro princípio da invenção – o Princípio de Arquimedes –, atribuiu a ascensão da engenhoca ao magnetismo, que era então a resposta para quase todos os mistérios científicos. Esperava dessa maneira melhor proteger o segredo confiado à sua guarda e ludibriar os bisbilhoteiros. Comunicou o plano a Bartolomeu, que o aprovou, e fingiu deixar o desenho escapar por descuido. A Passarola, inspirada ao que parece na fauna fabulosa de algumas lendas do Brasil, acabou sendo rapidamente copiada, logo se espalhando pela Europa em várias versões, para grande riso dos dois farsantes.
Passarola Voadora do Padre Bartolomeu de Gusmão
Toda essa trama seria descoberta anos depois por um poeta italiano, Pier Jacopo Martello (1625 – 1727), e revelada por ele na edição de 1723 do livro Versi e prose, em que fazia um longo e meticuloso histórico das tentativas do homem para voar, das mais antigas às mais recentes daquele tempo.
Em Agosto, finalmente, Bartolomeu Lourenço fez perante a corte portuguesa cinco experiências com balões de pequenas dimensões construídos por ele: na primeira, realizada no dia 3 na Casa do Forte (Palácio Real), o protótipo utilizado pegou fogo antes de subir; na segunda, feita no dia 5 noutra dependência do palácio, a Casa Real, o aeróstato, provido no fundo duma tigela com álcool em combustão, se elevou a 4 metros, quando começou a arder ainda no ar, sendo imediatamente derrubado por dois serviçais armados de paus, receosos dum incêndio aos cortinados do recinto; na terceira, feita no dia 6 novamente na Casa do Forte, o balão, contendo no interior uma vela acesa, logrou fazer um voo curto, mas se queimou no pouso; na quarta, feita no dia 7 no Terreiro do Paço (hoje Praça do Comércio), o balonete elevou-se a grande altura, pousando lentamente minutos depois; na quinta, feita no dia 8 na Sala das Audiências, no interior do Palácio Real, o globo subiu até o tecto do aposento, aí se demorando, quando enfim desceu com suavidade.
Em 3 de Outubro de 1709, na ponte da Casa da Índia, o padre fez nova demonstração do invento. O aparelho utilizado era maior que os anteriores, mas ainda incapaz de carregar um homem. A experiência teve êxito absoluto: o aeróstato subiu alto, flutuou por um tempo não medido e pousou sem estrépito.

Bibliografia: 
- ARRUDÃO, Matias. Bartolomeu Lourenço de Gusmão. São Paulo: Fundação Santos Dumont, 1959. 
- ASSIS, José Eugênio de Paula. Bartolomeu Lourenço de Gusmão. São Paulo: Coleção Saraiva, 1969. 
- AZEVEDO, João Lúcio de. Novas Epanáforas. Lisboa: Livraria Clássica Editora, 1932. 
- CARUSO, Francisco; MARQUES, Adílio Jorge. Bartolomeu de Gusmão: Raízes de um espírito inovador incompreendido.  In: Bartolomeu Lourenço de Gusmão: o padre inventor. Volume I - Colecção Brasiliana da Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra. Rio de Janeiro: Andrea Jakobsson Estúdio, EDUERJ, 2011, v. I, p. 33-55. 
- CARVALHO, Rômulo de. História dos balões. Lisboa: Relógio d’Água, 1991.

A Batalha de Ponte Ferreira em 1832. (Campo, Valongo)

terça-feira, 11 de julho de 2017

Ponte Ferreira - Onde se deu a Batalha entre as Forças de 
D. Miguel e D. Pedro em 23-07-1832
Ponte Ferreira, sobre o rio Ferreira, que lhe confere o nome, junto a Valongo...
A Batalha de Ponte Ferreira foi um recontro entre as tropas liberais e miguelistas travado a 23 de Julho de 1832 no lugar de Ponte de Ferreira, na freguesia de Campo, concelho de Valongo no contexto do Cerco do Porto durante a Guerra Civil Portuguesa (1828-1834). O combate desenvolveu-se em torno de uma antiga ponte de granito pela qual o exército liberal pretendia realizar a travessia do rio Ferreira. O exército miguelista era constituído por cerca de 15 000 homens e o liberal por 8 000 homens, perfazendo um total de cerca de 23 000 militares em combate.
 Batalha de Ponte Ferreira. A. E. Hoffman (18??-18??)
Para além de regimentos portugueses da artilharia, infantaria e cavalaria, participaram na acção dois batalhões de mercenários ao serviço de D. Pedro IV de Portugal, um constituído por ingleses e outro por franceses.
A acção iniciou-se a 17 de Julho, quando os dois exércitos se defrontaram em pequenos recontros nos montes circundantes ao lugar e nas ruas de Valongo. No dia 22 de Julho o exército liberal recebeu ordens para atacar as forças miguelistas que se encontravam instaladas numa linha de batalha sobre montes situados adiante da povoação da Granja, na freguesia de Gandra, do outro lado do rio Ferreira, já no concelho de Paredes.
As tropas miguelistas estavam posicionadas numa extensa formação que se estendia até "Chão de Terronhas", actual lugar de Terronhas, freguesia de Recarei, concelho de Paredes. O extremo direito da linha chegava à margem esquerda do rio, em Balselhas, e era constituída pela 3.ª brigada com dois esquadrões de cavalaria e uma peça de artilharia. A força era protegida por uma íngreme colina, tendo o seu extremo esquerdo apoiado na Serra do Raio.
Entre os dois exércitos estava o rio Ferreira, o qual apenas podia ser atravessado por uma antiga ponte de granito situada no lugar de Ponte de Ferreira. Na manhã do dia 23 de Julho foi dada ordem para o exército liberal transpor a ponte. Durante mais de 12 horas, liberais e miguelistas bateram-se em torno da Ponte Ferreira, sem uma vantagem clara e definitiva de qualquer das partes, provocando grande número de mortos e de feridos nos dois lados. Esta pode contudo ser considerada uma vitória dos miguelistas, já que conseguiram fazer com que os objectivos dos liberais não fossem alcançados.

Bibliografia:
- Luz Soriano, História do Cerco do Porto
- A Voz de Ermesinde

Destruição de um Palacete... para Hotel, claro! (Porto)

sexta-feira, 7 de julho de 2017

Nas palavras do grande conhecedor da história da Invicta Germano Silva, a história deste edifício é “nebulosa”, mas sabe-se que na segunda metade do século XVIII, em 1762, pertenceu a Armando Artur Ferreira de Seabra da Mota Silva, da burguesia portuense da época.
Em meados do século XIX, o palacete secular esteve para ser expropriado pela Câmara do Porto, por alturas em que a autarquia andava a abrir a rua hoje baptizada de José Falcão.
Só não foi expropriado, porque o traçado da rua foi alterado”, conta Germano Silva, recordando que o edifício se distinguia pelos painéis de azulejos.
Em finais do século XIX, o palacete, que chegou a ser uma padaria e armazém de fazendas, pertencia a Artur Augusto de Albuquerque Seabra, professor de matemática e antigo jornalista que pertenceu à Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto.
Palacete do século XVIII

Palacete do século XVIII. Corpo total do edifício in Google Maps
 Palacete do século XVIII. Edifício completo
 O palacete, devoluto, mas ainda com todas as suas paredes e telhado in portojofotos
Recentemente foi (ou está ainda a ser) esventrado, aliás destruído na sua essência, visto do mesmo já só restar a sua fachada frontal. Todas as outras paredes de granito foram derrubadas e o seu interior desapareceu, dando, no momento exacto em que escrevemos este artigo, lugar ao um gigantesco e profundo abismo.
Destruição de um palacete
Fachada frontal. A única coisa que sobrou do palacete
  Traseira da única fachada que permaneceu de pé

 Destruição de um palacete. Uma cratera imensa no local do histórico edifício
Do palacete, restou apenas a fachada frontal voltada para o Largo Moinho de Vento
O objectivo desta, a nosso ver, abominável destruição, é criar mais um hotel de cinco estrelas, com 60 quartos, em 2019, segundo informou à comunicação social, o administrador da Vidamar, Pedro Costa.  
O novo hotel, que se vai chamar Hotel Oporto Wine & Books, vai ter seis pisos acima do solo e dois pisos abaixo da cota da soleira, e uma volumetria de 11 mil metros quadrados, lê-se no “Aviso” afixado junto à obra e cujo titular do alvará é a Worldlounge, Lda.
A constructora espanhola Sanjose foi a empresa que recebeu a adjudicação da Worldlounge Lda – Hoteis com restaurante para executar “primeira fase das obras do Hotel Oporto Wine & Books, lê-se na página da Internet daquela empresa.

Imagens:
- Google Maps
- Blogue portojofotos
- Alexandre Silva

Palacete Leite Pereira. (Porto) Será "salvo" pelo turismo?!?

segunda-feira, 3 de julho de 2017

Quem nasceu e cresceu, ou frequentou com assiduidade a cidade do Porto nas últimas décadas, não será estranho ao fenómeno do turismo explosivo, que assolou a mesma a partir de 2005/2008, pouco mais ou menos...
Um centro histórico, no qual se viam os portuenses no seu trabalho diário e que se tornava um "deserto" a partir do fim do expediente, é hoje um "enxame" de turistas estrangeiros. Alemães, Ingleses, Franceses, Chineses, Brasileiros, etc. etc. entopem a Baixa de noite e de dia.
Já correm vozes, que muito brevemente a cidade do Porto terá de tudo, menos portuenses...
Tudo tem o seu lado bom e o seu lado mau. Aqui não será excepção. O lado bom, é obviamente o lado referente à economia. Os cafés e restaurantes da Baixa do Porto, que são cada vez mais, passaram a ostentar preços para bolsos de Alemães e Ingleses, que ganham em média 5 ou 6 vezes mais que o trabalhador português. As casas antigas, ou "velhas" como preferem alguns e nas quais já ninguém podia morar, por falta de condições, estão a ser reconstruídas (umas com mais rigor histórico que outras) e transformadas em "habitação de luxo" vendidas por preços exorbitantes. Os antigos Palacetes de famílias nobres, estão a dar lugar a Hoteis de luxo, um atrás do outro...
O lado mau será o crescente e já evidente despovoamento, por parte dos seus habitantes autóctones, que não possuem possibilidades financeiras, para fazer frente aos seus "concorrentes" estrangeiros.
A cidade velha perde assim o resto dos seus habitantes e com eles as suas características próprias...
Mas, após esta ligeira reflexão, vamos ao verdadeiro item desta publicação: O Palacete Leite Pereira.
Localiza-se na antiga Rua do Olival, sitio onde em 1485, apareceu a peste e para evitar a propagação dessa terrível epidemia, o arruamento foi entaipado. Isso fez com que em 1486 se alterasse o nome para a actualmente conhecida Rua das Taipas.
 Palacete Leite Pereira na Rua das Taipas in AMP
Os Leite Pereira, Viscondes de Alcobaça, eram a família nobre, proprietária desta formidável casa e cujo brasão (ou pedra de armas) ainda se pode observar na fachada.
 Palacete Leite Pereira
 A pedra de armas na casa nº 74 da Rua das Taipas
Tendo deixado de ser residência nobre em data, que neste momento não possuímos dados para referir, o certo é que este espaço serviu posteriormente de sede ao Clube Inglês. Funcionou ainda como uma drogaria durante largos anos.
O Palacete nestes últimos anos... ou décadas
Nos últimos anos o Palacete tem estado neste crescente estado de degradação... será também "salvo" pelo turismo? Se for o caso esperemos que o "salvamento", seja feito de forma mais digna, que outros que temos observado. Edifícios magníficos, onde são derrubadas todas as paredes antigas de pedra (e substituídas por outras de betão) ficando do edifício original, apenas a fachada frontal. 
Exemplos? Passeiem pelo Largo Moinho de Vento, ou pela Rua de Sá Noronha...


Imagens: 
- Arquivo Histórico Municipal do Porto 
- Google Maps

Ponte sobre o Ribelas. (Chaves)

sexta-feira, 30 de junho de 2017

Antiga ponte sobre o Ribelas
Curiosamente e contrariando as outras publicações sobre pontes, que integram este blogue, a ponte sobre o Ribeiro Ribelas (ou Rivelas, como também lhe chamam) não desapareceu. 
O que desapareceu, foi o ribeiro que por baixo dela passava!
A Ponte sobre o Ribelas, é uma ponte de tabuleiro assente sobre dois arcos desiguais de volta perfeita. Originalmente, esta ponte encontrava-se sobre o Ribeiro de Ribelas, cujo curso foi depois desviado a montante, deixando a ponte numa zona seca. Isto sucedeu na década de 1950, altura em que foi construído o actual Pavilhão Termal, e o Ribelas foi desviado, para evitar inundações. Retiraram as guardas laterais da ponte e a mesma ficou parcialmente aterrada, devido à subida da cota do terreno, resultante da intervenção humana.
Mais recentemente foi criado um lago, artificial para dar à ponte uma ilusão da sua antiga função.

A Mercearia Camanho. (Porto)

quinta-feira, 15 de junho de 2017

  «Mercearia  Camanho» in AMP
A «Mercearia Camanho», de Manuel Camanho Cernade, situava-se no ângulo da Rua da Boavista, n.º 395, com a Rua de Cedofeita, n.º 694-696, num edifício secular e ainda existente, ocupando então o seu piso térreo. Como muitas outras mercearias da época, esta casa abastecia as despensas dos lares de seus clientes habituais, vendendo todo o artigo de mercearia, bem como tabaco. Funcionava também como depósito de vinhos da C.ª Vinícola do Norte.
  «Mercearia  Camanho» in AMP
No sítio exacto, então ocupado pela Mercearia Camanho, encontra hoje a Confeitaria Universal, no mesmo edifício, embora com evidentes modificações na fachada do mesmo. Clique AQUI, para ver o local actualmente.

Casa do Poço das Patas ou Palacete dos Cirne. (Porto)

sábado, 20 de maio de 2017

Casa do Poço das Patas ou Palacete dos Cirne in AMP
Outrora periférica, a freguesia do Bonfim cresceu ao longo dos antigos caminhos de Gondomar (Caminho do Padrão de Campanhã, actual Rua do Heroísmo) e Valongo e Penafiel (actual Rua do Bonfim); e cresceu em torno do Monte das Feiticeiras, onde fora erguido o cruzeiro da duo-décima estação da Via Sacra, também designado do Senhor do Bom Fim e da Boa Morte. A Quinta do Poço das Patas pertenceria à família Cirne (Cyrne) desde 1513, ano em que foi comprada por Manuel Cyrne. Naquele local absolutamente rural, existia então um ribeiro, com uma pequena ponte em pedra, que permitia a sua travessia...
O enorme edifício que hoje alberga a Junta de Freguesia do Bonfim (e que se encontra muito ampliado, face ao inicial) foi originalmente construído entre 1812-15 por Francisco de Sousa Cirne de Madureira, um dos revolucionários de 1820, para ser a residência habitacional da Quinta do Reimão, a propriedade da sua família.
Os Cirne (Cyrne) eram uma influente família portuense que gerou um dos nossos Feitores da Flandres.
O edifício foi sua pertença até ser comprado por Joaquim Domingos Ferreira Cardoso, em sociedade com Eduardo Ferreira Pinheiro, no ano de 1882, por 95 contos de reis. Eram então donos da quinta D. Maria Ana Isabel de Sousa Cirne Teixeira Blanco e o seu irmão António de Azevedo Cabral Teixeira Cirne. O Brasão dos Cirnes, que ornamentava o cimo da fachada principal, foi picado em 1890 e substituído pelo ornato de granito que encima o edifício actual.
A quinta foi então loteada e urbanizada. Nos antigos terrenos de cultivo e jardins construíram-se casas e rasgaram-se as ruas dos Duques de Palmela, de Saldanha e da Terceira, do Conde de Ferreira, do Barão de S. Cosme, de Joaquim António de Aguiar e a de Ferreira Cardoso.
Em 1890 a Casa é comprada por 20 contos de reis pela Junta Paroquial do Bonfim.
Posteriormente veio a albergar o Liceu do Porto, já desaparecido, e incorporado no Liceu Rodrigues de Freitas, até sofrer obras em 1930, onde lhe foi aumentado um piso que lhe permitiu acolher a sede da Junta de Freguesia, que ocupa presentemente o edifício.
Junta de Freguesia do Bonfim in http://www.jfbonfim.pt

Fontes:
- Junta de Freguesia do Bonfim
- CMP
Wikipédia
- AMP

Forte de São João da Junqueira. (Lisboa)

quarta-feira, 10 de maio de 2017

Forte da Junqueira. Cliché - Filmarte in A.M.L.
 Forte da Junqueira. Cliché de José Artur Leitão Bárcia in a.f. C.M.L.
O Forte de São João da Junqueira, ou apenas Forte da Junqueira, localizava-se no areal da Junqueira, com a fachada frontal voltada para o rio Tejo, onde actualmente existe a Avenida da Índia, a leste do edifício da Cordoaria Nacional, em terreno onde hoje se situam a Rua Mécia Mouzinho de Albuquerque e a Feira Internacional de Lisboa.
Presume-se que terá sido edificado por altura da Guerra da Restauração da Independência Portuguesa (1640-1668) terá sido erguido por determinação do Conselho de Guerra de João IV de Portugal (1640-1656), possivelmente após 1649, com a função de reforço da defesa marítima da capital.
 Forte da Junqueira em 1939. Cliché de Eduardo Portugal in a.f. C.M.L
Sendo inicialmente uma fortificação de reduzidas dimensões, a sua construção estava praticamente concluída em 1666, quando contava com uma bateria voltada ao Tejo e a edificação de serviço pelo lado de terra.
Seria posteriormente ampliado e terá sido no reinado de José I de Portugal (1750-1777) que atingiu as suas maiores dimensões. D. José, talvez o rei mais inútil da História de Portugal (excluímos D. Afonso VI, pois era deficiente mental) delegava no primeiro-ministro, o célebre marquês de Pombal, todas as decisões. Assim, por decisão do marquês, as dependências do Forte, foram convertidas em prisão do Estado, adquirindo uma sinistra reputação. 
Neste local estiveram detidos numerosos elementos do povo e nobres, nomeadamente quando do processo dos marqueses de Távora, com destaque para D. João de Almeida Portugal, 4.º conde de Assumar e 2.º marquês de Alorna (1726-1802) e D. Martinho Mascarenhas, 6.º e último marquês de Gouveia. O primeiro aqui esteve detido por 18 anos, tendo nos legado uma breve relação intitulada “As prisões da Junqueira, durante o ministério do marquês de Pombal”, publicada conforme o original por José de Sousa Amado, presbítero secular (Lisboa, 1857). Inédita durante 70 anos, dela surgiram várias cópias com títulos como “Relação dos presos do forte da Junqueira” e outros. 
Na época Pombalina o forte-prisão contava com três pavimentos abaixo do solo, afirmando-se que o mais profundo era utilizado como cemitério, ali sendo sepultados os que não resistiam ao cativeiro. Os pavimentos superiores funcionavam como cárceres.
Os presos de Estado detidos na Junqueira apenas foram libertados com a morte de D. José I (24 de Fevereiro de 1777) e a ascensão ao trono de Maria I de Portugal (1777-1816).
 Interiores - "O pateo das prisões e a capella" in Ilustração Portuguesa
  Interiores - "O carecer (cárcere) dos Tavoras" in Ilustração Portuguesa
 Interiores - "O pateo e o poço" in Ilustração Portuguesa
Com muitas modificações efectuadas ao longo dos anos, o forte chegou ao século XX, tendo sido demolido em 20 de Março de 1940, quando da abertura da "Avenida da Índia", nos trabalhos preparatórios dos acessos à "Exposição do Mundo Português".
A sua demolição chegou a ser anunciada pelo jornal lisboeta "Diário de Notícias" de 23 de Novembro de 1939, em matéria de Nogueira de Brito, sob o título “A Junqueira de outros tempos e o Forte de São João que vai a demolir”.

Fontes parciais:
- SIPA / DGPC
- Fortalezas.org
- CML
- ANTT

Palacete de Manoel Pinto da Fonseca. (Porto)

sábado, 6 de maio de 2017

 Palacete do banqueiro Manoel Pinto da Fonseca . BPI (digitalização)
Esta formidável habitação foi a moradia de Manoel Pinto da Fonseca, fundador, em conjunto com o seu irmão, da Casa Fonseca, que posteriormente haveria de dar origem ao já desaparecido Banco Fonsecas e Burnay. Localizava-se na Avenida da Boavista, esquina com a Rua de Belos Ares, onde actualmente se encontra o prédio que alberga o Bingo da Boavista. Foi devastada por um incêndio em 14 de Outubro de 1926.
Bombeiros a apagar o incêndio do Palacete do banqueiro Manoel Pinto da Fonseca, localizado na esquina da Rua de Belos Ares com a Avenida da Boavista, no Porto. Cliché Alvão. 1926-10-14 in Centro Português de Fotografia
Palacete do banqueiro Manoel Pinto da Fonseca
 Av.ª da Boavista, vendo-se o Palacete Manoel Pinto da Fonseca

Imagens:
-Centro Português de Fotografia
-AHMP
-BPI (digitalização)